quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Apresentação


Epicuro fez do jardim de sua casa uma escola, a primeira que se tem notícias, na qual podiam estar todos aqueles que sentissem desejo de aprender. O aprendiz podia chegar e ir-se embora, quando sentisse vontade. O jardim de Epicuro estava sempre repleto de aprendizes ávidos por saber mais. As muitas dificuldades vividas pela escola na atualidade fazem com que o Jardim do Epicuro pareça uma situação utópica e quase impossível de vivenciarmos em nossos dias.  

Escola prá quem te quer


 
Cresci assistindo meu pai às voltas com seus livros de Filosofia e Sociologia. Ensinou-me a escrever usando a mão direita, pois sou canhota, mas de uma maneira digna e prazerosa.
Quando fui para a escola, já alfabetizada, vivia uma dicotomia de experiências – na escola, longas cópias, disciplina, provas e muitas regras a seguir, e em casa, um microscópio que eu explorava com toda sorte de coisas que coubessem nas suas pequenas lâminas: asas de insetos, folhas, pólen, minhocas e outras coisas curiosas para uma criança de sete anos, além de acompanhar meu pai em suas excursões com os alunos à procura de raízes, frutos e tudo mais que compunha suas aulas de ciências em uma escola estadual numa pequena cidade de Minas Gerais.
Os primeiros anos escolares foram intensos em sentimentos antagônicos.
Dessa maneira, crescia meu encantamento pelas atividades docentes do meu pai e a escola, longe disso, era um lugar a que eu deveria ir, mas cujas práticas eram muito distantes do meu mundo de menina que gostava de explorar e conhecer coisas novas.
Passaram-se os anos e ao concluir o ensino médio eu ainda não tinha certeza do que “queria ser”, mas com plena convicção de que aprender e ensinar era um caminho natural a trilhar.
Durante o curso de Pedagogia voltei a me encantar com a possibilidade de poder mudar o mundo por meio da educação, totalmente enfeitiçada com as aulas de Sociologia e da primeira professora que realmente fez a diferença em minhas escolhas. Nasceu ali o desejo de ver nascer uma escola para todos: a escola dos meus sonhos.
Minha primeira sala de aula reforçou todas as expectativas que alimentei ao longo dos anos. Em um mundo urbano, em que as pessoas são organizadas em classes sociais, dos que moram nos bairros nobres ou nas periferias das cidades, eu não havia contado em encontrar uma escola que não se encaixava em nenhuma dessas classes sociais – era uma escola em um bairro muito distante do centro da cidade de Juiz de Fora, que mais se parecia com uma localidade rural.
Vivíamos nesse período a efervescência da escolha de diretores, de propostas democráticas e autônoma para as escolas e pudemos fazer experiências extraordinárias.
As famílias da comunidade viviam de maneira muito simples e suas principais atividades eram compostas de pequenas hortas, criação de frangos e codornas e a mais encantadora de todas – o cultivo de flores – especialmente copos de leite.
Ali estávamos nós com alunos sem muitas perspectivas em relação a escola, exceto o aprendizado de leitura e da escrita, mas com ricas experiências de vida prática.
A escola que sonhávamos pode ser construída com jovens professores que acreditaram que havia espaço para abrirmos novos horizontes para toda aquela gente e colocarmos em prática os desejos docentes que em outros espaços não eram possíveis.
Começamos convidando toda a gente do bairro a participar da escolha de projetos que contribuiriam para melhores condições de vida e aprendizagem. Lembro-me com clareza das primeiras ações que desenvolvemos que iam desde o cultivo de uma horta no interior da escola para reforço da merenda, até o cultivo de plantas medicinais que eram utilizadas por todos nós e espaços de socialização de seus saberes.
Envolvemos toda sorte de profissionais que se dispuseram a dar sua colaboração para que essas atividades pudessem acontecer e que se encantavam com o que viam ali: proteção e despoluição do pequeno córrego que passava ao lado da escola, crianças experimentando novos sabores e incorporando diferentes hábitos alimentares, a escola toda pintada e preservada, as famílias participando ativamente da vida escolar de seus filhos, uma baixíssima taxa de evasão e reprovação, aumento das matrículas nas turmas de Educação de Jovens e Adultos, participação nos concursos de desenhos e redação promovidos pela Secretaria Municipal de Educação e o envolvimento de todos os professores.
Era prazeroso estar na escola. As festas que promovíamos eram sucesso total e as maiores estrelas eram sempre as pessoas da comunidade – cantores locais se apresentando, pratos da culinária produzidos pelas famílias, exposições de flores e de animais, enfim toda sorte de cultura e diversão.
Um evento que me marcou profundamente foi quando um aluno do 5º ano, já retido por três anos consecutivos e considerado pelos antigos professores como incapaz, apresentou um desenvolvimento fora do comum depois de participar dos projetos que desenvolvíamos, entre eles, a criação de um pequeno aquário em nossa sala de aula. Mas nosso aquário não era desses ornamentais não, era um aquário construído com os peixes que as crianças garimpavam nos córregos e ribeirões no entorno de suas casas e da escola. Pesquisamos e aprendemos como cuidar dos tais peixinhos, alimentá-los, classificá-los e esse aluno se tornou o mais entusiasta de todo e isso se refletiu em uma aprovação com louvor ao final do ano e da mesma maneira nos anos subsequentes.
Bom, a vida nos faz trilhar outros caminhos e isso ocorreu comigo também, mas lá se vão vinte e cinco anos e carreguei comigo, ao longo desses anos, que fazer a escola com que sonhamos é, sobretudo acreditar sem limites no outro e abrir com ele portas e janelas de todo tipo de conhecimento, mas com muito prazer e alegria, entregando-se a cada nova experiência.
Já vi lindas bibliotecas sem leitores, pátios silenciosos e salas de aulas entristecidas o que me faz crer a todo momento que a liberdade nos faz descobrir novos horizontes e possibilidades.
O sonho de uma escola feliz é um sonho possível!

Adriana Vaz Efisio Emanuel
 
Docente na Universidade de Uberaba e Analista Educacional na SEE, trabalhou com a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Superior. Atua como professora na Educação a Distância e formação de professores. Adora cozinhar!




A escola dos meus sonhos


É um lugar de ensino e aprendizagem onde cada um desempenhasse bem sua função, com responsabilidade, dedicação tendo um mesmo objetivo.
Em lugar onde reinasse:

·        * o respeito
·        * a colaboração
·       * o conhecimento
·        * a justiça

Amália Maria Carvalho Mateus Idaló
Professora na Escola Estadual anexa à SUPAM em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Trabalhei mais de duas décadas com o ensino de química e ciências para alunos do ensino médio e fundamental. Tem como áreas de interesse aprendizagens de tecnologias, e baixa visão. Adora música!

Um lugar que, no passado, produzia mesmidades




 


Um lugar comum. Assim era a escola no tempo em que César estudava.
César lembra que, quando estudava, o mundo era múltiplo e veloz, mas que alguns lugares se caracterizavam pela sua “perenidade e pela verdade de uma lição de coisas”[1]. Escola, convento, asilo, hospital e quartel, eram destes lugares comuns, que celebravam a característica de perpetuidade e existiam sob-regimes de verdade, autorizando ou não discursos que justificam o domínio de uns sobre os outros.
Mas de todos estes lugares comuns dos homens e das cidades, aquele que marcou a história de César foi a “escola”.
Olhando como os gregos deram significados ao que se entendia por escola, no tempo em que César estudou, é que entendemos um pouco melhor por que a escola necessitava ser um lugar comum e produzir lugares comuns. Aristóteles (384-322 a.C.) dizia que um lugar comum “tinha por função guardar uma certa generalidade, condensando imagens e palavras comumente usadas pelos oradores e comumente sustentadas pela audiência”[2].
Se as imagens e as nomeações são uma das primeiras formas de demarcar um território e de estabelecer fronteiras entre grupos sociais, a escola, no tempo em que César estudou, pôde fazer disto uma ação assimilativa da cultura e adaptativa quanto ao meio (território). César aprendeu que as palavras e coisas que levava com ele serviam como senhas para entrar em grupos ou frequentar determinado lugares.
Assim, culturas de poucos e bastante particulares eram transformadas em senso comum. Cada vez mais, um número maior de pessoas tornava-se feliz por falarem as mesmas coisas, vestirem as mesmas roupas, cantarem as mesmas músicas; quando se encontravam parecia até que um lia os pensamentos do outro. Era muito fácil fazer amizade, César se lembra dos 3.577 amigos que foram fiéis a ele e migraram do Orquite para o Facetruque. Os gestos, os cabelos, as pulseiras que intermediavam grupos de diferentes escolas, de diferentes cidades e até de diferentes países (como o Uélissom que veio da Colômbia e estudava no 8º C) facilitavam a conversa entre eles e, rapidamente, lá estavam eles compartilhando dicas e os melhores sites de onde comprar o mais novo boné do grupo Reistress.
Isto que se fazia na escola (e em muitos outros lugares também) era um importante recurso estratégico de organização de uma “memória artificial”[3], não apenas em seu aspecto figurativo – o brinquedo, o refrão da música, o boné de lado, o hashtag – mas em seu aspecto operativo, ligado às maneiras de conceber o mundo e o conhecimento.
Assim, César e a maioria dos seus amigos (lembremos de seus 3.577 amigos) e dos amigos dos seus amigos também mantinham outras semelhanças. Sabiam as mesmas coisas sobre o Tsunami, o Obama e a Amazônia, contavam as mesmas histórias sobre os negros e os governos, sabiam as mesmas características da Tundra e da Taiga, davam as mesmas explicações sobre a existência dos sem terra, do aquecimento global e da fome na África.
Para isso, César, seus amigos e todos os alunos de todas as escolas do Brasil participavam da mesma corrida, seguiam um percurso, cuja pista, obstáculos e mapa foram cuidadosamente desenhados para serem seguidos. Assim, um dos recursos estratégicos que garantiam que todos tivessem acesso aos mesmos saberes era o estabelecimento deste determinado percurso (curriculum) do qual todos tinham de participar, um lugar onde todos os homens deviam frequentar progressivamente, com rituais comuns, horários e lições.
Desde o “Diálogo da conversão do gentio”, escrito pelo Padre Manuel da Nóbrega, na Bahia em 1557, são procuradas semelhanças e dessemelhanças entre os povos colonizadores e os que precisavam ser colonizados[4]. A dessemelhança era assunto de reflexão, mas para que fosse suplantada, e os esforços iam desde “harmonizar” as vestimentas, cortes de cabelos, crenças às concepções sobre si e sobre o velho mundo que os conduzia à civilidade.
Assim, na escola foi se criando uma sociedade tida como nova, moderna, “harmônica” e de memória artificial, alcançando seus ápices na época em que César era aluno.
Mas César se lembra dos colegas Serginho e Fernanda e da professora de geografia Rosalva, que eram diferentes de todos. César não sabia ao certo se eles não se saiam bem nas senhas para entrar nos grupos ou se nenhum dos grupos que existia na escola lhes interessava. Mas uma coisa era visível, eles estavam entre as principais preocupações da escola. O que fazer com as dessemelhanças?
Ao mesmo tempo em que um lugar comum ensina saberes iguais e produz mesmidades, ele também funda saberes sobre o outro que é diferente, por não participar ou não se adequar a nenhum dos modelos previstos. Funda-se, então, uma nova categoria na classificação, para que eles possam ser considerados dentro de certa normalidade e logo se criam regras para sua inclusão, e assim resolve-se (no âmbito dos saberes) o problema daquela diferença, ou, por outro lado, fundam-se nomeações que, mais do que excluir, deprecia o diferente. Bárbaro, selvagem, atrasado, subdesenvolvido, alienado, menos civilizado, feio, ignorante, culturalmente inferior – são saberes que deflagram os sentidos particulares de existência, portanto deflagram a própria existência de uma pessoa.
César e seus amigos cresceram. Os saberes que antes serviam somente para passar nas etapas do percurso (curriculum), para que sua escola e seus professores figurassem num índice e para que ele figurasse em outro que dava acesso à universidade, agora se constituíam em práticas. E César percebeu que, um a um, excluiu ou foi excluído pelos seus 3.577 amigos, não do Facetruque, mas da sua rede social; os refrãos das músicas e os hashtags não bastavam mais para mantê-los “irmãos”. Aquilo que antes eles sabiam, agora eles sentiam. O que antes só ganhava o nome de atrasado, agora recebia preconceito.
Esse lugar, no sonho de César, existiu num passado distante. Em seus sonhos, poucos resquícios deste lugar podem ser encontrados nos dias de hoje.



[1]                      Parafraseando Foucault (2006, p. 255), em “Isso não é um cachimbo”, ao descrever “o lugar da imagem” do cachimbo colocada por Magritte. FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. In: FOUCAULT, Michel. Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. 247-263.
[2]              Aristóteles citado por Ana Smolka (2006, p. 100). SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Experiência e discurso como lugares de memória: a escola e a produção de lugares comuns. Pro-Posições, v. 17, n. 2 (50), Campinas, 2006. p. 100.
[3]              SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Experiência e discurso como lugares de memória: a escola e a produção de lugares comuns. Pro-Posições, v. 17, n. 2 (50), Campinas, 2006. p. 100.
[4]              CUNHA, Manuela Carneiro da. Imagens de índios do Brasil: o século XVI. Estudos Avançados. v.4, n.10. São Paulo, 1990. p. 103.

 

Amanda Regina Gonçalves
Professora do curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Mestre em Educação e Doutora em Geografia. Atua nos temas de cartografia escolar, formação de professores, currículos.



A Nova Escola – Sonhos e Realidade





Assistimos a um cenário em que o professor encontra-se em uma crise identitária. O imaginário em que ele se apresenta como detentor do saber desaparece. Na sociedade hodierna, verificamos que professor e alunos são sujeitos ativos na construção do saber. Se no passado o distanciamento entre as duas entidades era grande, hoje, ainda que a interação professor-aluno seja assimétrica, observa-se que a voz deste último emerge no seio escolar, estreitando esse distanciamento.
O que aqui chamo de “crise identitária” pode ser exemplificado pela frustração da classe docente quando se vê “desarmada” perante a indisciplina na sala de aula. O professor que se vê como detentor do saber e faz o “apagamento” do aluno enquanto sujeito discursivo olvida-se de sua função formadora de sujeitos pensantes e questionadores, ativos no meio social. Sem “armas”, o professor vem valendo-se de avaliações de caráter punitivo.
Quando tenho em mãos o livro didático, com as diretrizes estabelecidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que vislumbra o diálogo com os outros saberes, penso em uma aula completamente contrária àquela marcada por uma visão tradicionalista. Sempre me pergunto: “Estou utilizando o texto literário como pretexto para ensinar gramática?”, o que é abominável nos dias de hoje. Quero que meus alunos sejam sujeitos partícipes do binômio ensino-aprendizagem.
A título de exemplificação, trabalhei o conto “A Cartomante”, de Machado de Assis em turmas de segundo ano do Ensino Médio. Com isso, visava não apenas inserir elementos da narrativa ou aspectos estilísticos do referido autor, ou ainda elementos do Realismo Brasileiro, mas, sobretudo, aguçar a criticidade de meus alunos. Em um segundo momento pretende traçar um paralelo entre o realismo machadiano e a pós-modernidade. A leitura de Machado me parece tão atual para falarmos em uma “pós-modernidade”, em fragmentação do “eu-sujeito” e, consequentemente em sua crise identitária. Após a leitura da obra, vamos assistir ao filme “A Cartomante”, e verificar como essa narrativa foi transposta, no cinema, para os tempos atuais. Não se trata de uma versão fiel à obra do fundador da Academia Brasileira de Letras, embora a intertextualidade seja marcante: Rita (Deborah Secco) se apaixona perdidamente por Camilo (Luigi Barricelli), mas há um problema: ela está noiva de Vilela (Ilya São Paulo), o melhor amigo de Camilo. Em dúvida sobre o futuro, Rita decide consultar uma cartomante, porém, o que as cartas lhe revelam indicam um caminho diferente do que diz sua psicóloga, Dra. Antônia (Sílvia Pfeiffer).
Desdobramo-nos para tornar nossas aulas atrativas, por meio de dinâmicas e outras atividades nas quais o aluno possa revelar suas habilidades diversas. Contudo, o mundo exterior à escola parece ser mais atrativo. A Internet, ferramenta criadora de relações virtuais, ainda permite que o aluno encontre sínteses de obras literárias, e até mesmo, análises de tais obras. Recordo-me de que, quando aluno do Curso de Letras da Universidade Federal de Uberlândia, enquanto alguns liam a obra na íntegra, outros estavam munidos de um roteiro extraído do meio eletrônico. Quando íamos ser avaliados, ficava impressionado – as questões da avaliação podiam ser respondidas com o simples roteiro extraído da Internet.
Cumpre reavaliarmos nossa prática docente. Há, ainda, muitos professores presos ao passado, ensinando, por exemplo, orações coordenadas e subordinadas e, aposteriori, exigindo em suas provas a nomenclatura de tais orações. Deveríamos priorizar, em nosso ensino, o efeito semântico obtido pelo emprego de tais orações.
O que me faz feliz na prática pedagógica é o dialogismo propiciado pelo livro didático com o qual estou trabalhando. Lá estão inseridos problemas de matemática, questões científicas, dentre outras, proporcionando ao professor de Língua Portuguesa o diálogo com as demais disciplinas. E essa é a tendência atual de ensino.
E, afinal, como seria a escola ideal?
Falar em escola ideal é falar em perfeição. Falemos, então, em uma escola plausível aos moldes do século XXI.
É possível uma escola combater a evasão de alunos. O professor pode contribuir para com isso por meio de aulas dinâmicas, estabelecendo uma relação saudável com aqueles. Minha experiência tem revelado que, por meio do estreitamento da relação aluno-professor, muito pode ser conseguido. A equipe administrativa também é responsável pelo combate à evasão. Devemos ter muito cuidado com nossas falas. Estas têm o poder de cativar, mas também o de ferir. A escola do século XXI não é aquela que “empurra” conteúdos e sim aquela que atende aos reais interesses do indivíduo. Há um programa a ser cumprido, há diversos mecanismos para alcançarmos nossos objetivos de maneira prazerosa tanto para o aluno quanto para o professor. A escola deve respeitar as diferenças, afinal, não somos formas geométricas. O corpo discente deve ter voz: o silêncio da sala de aula nem sempre corresponde ao aprendizado. Devemos formar alunos críticos. Não estamos produzindo máquinas em série. A escola deve constituir-se como espaço de diálogo, portanto, não pode ignorar pais e a comunidade.
É necessário acabar com a compartimentação do que ensinamos. Em sua formação, o aluno perceberá que tudo o que faz é intermediado pela linguagem. E a linguagem a que me refiro não está inserida apenas no ensino da Língua Materna pelo professor de Língua Portuguesa, mas no conjunto de disciplinas da grade escolar. Destarte, cabe uma reflexão entre os educadores – não estamos simplesmente preparando alunos para ocupar uma cadeira na universidade, mas, sobretudo preparando-os para as dificuldades que enfrentarão no seio social. A prática docente decente deve, em suma, nortear-se por uma formação humanística.
Faz-se mister quebrar o paradigma de que quem estuda na rede particular de ensino tem mais chances de abarcar a vida acadêmica. Devemos exigir de nossos governantes políticas que valorizem a figura do professor. Afinal, a educação é uma das garantias fundamentais preconizadas pela Constituição Federal.  

 

Marcelo Almeida 
Graduado em Letras (Português-Inglês) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós graduado em Linguística – Análise do discurso na mesma instituição. Professor de Língua Inglesa em escolas de idiomas, professor efetivo de Língua Portuguesa na Escola Estadual Paulo José Derenusson.


Escola sob medida e Educação para o Caos






Olhe a sua volta, vê alguém exatamente como você? Como é possível supor que sejamos tantos e tão diferentes e que uma única escola dê conta de toda diversidade? Considerando a pluralidade de feitios, é impossível haver uma escola dos sonhos única que pudesse atender a demanda de todos ao mesmo tempo. Acho que o melhor seria recuperarmos a ideia do psicólogo Claparéde, da Escola Sob Medida. Assim, cada pessoa com seu feitio teria uma escola que a acolhesse em suas habilidades, gostos e limitações. A ideia seria pensar muitos tipos diferentes de escola, para os muitos tipos diferentes de pessoas, e até mesmo a ausência delas, para aqueles que não se relacionam bem com as escolas. Nesse caso, estas pessoas poderiam ser educadas em casa ou em outras situações educativas, como acontece com as crianças que vivem e trabalham em circos, as ciganas, as refugiadas da guerra e da fome, as que navegam com os pais pelos mares do mundo!
Para aquelas escolas que existiriam como escola, penso que alguns itens deveriam estar presentes obrigatoriamente. Uma casa na árvore seria indispensável, uma espécie de torre de observação, ou quem sabe um mirante. Os alunos passariam ali horas estudando, observando os pássaros, gravando-os.... Cada escola deveria ter uma piscina olímpica, auditório com coxia e cortinas, tela para projeção de cinema ao ar livre, relógio de sol, pelo menos uma fonte luminosa pequenina, horta e canteiros (caso fosse inviável um jardim). Acho que as escolas deveriam ter também animais de estimação que fossem mantidos, cuidados e acarinhados por todos. Seria interessante ver uma aula ser repentinamente interrompida pela indiferença elegante de um gato, entrando por uma porta e saindo pela janela. Poucas situações configuram-se mais como lição de humano que a convivência com animais.
Nenhuma escola deveria preferir o prático ao belo. Beleza não pode ser considerada luxo, é algo que alimenta o espírito e tempera os desejos. Por isso, as escolas presenciais deveriam ser bonitas e acolhedoras, com inúmeros convites à contemplação: painéis, quadros, mosaicos, janelas amplas. Escolas amadas são escolas que a comunidade preserva e cuida. Além das salas de aula, a escola deve ter muitos espaços que convidem os alunos “a ficar”, com cadeiras e poltronas confortáveis, mesas ao ar livre. Quando um lugar tem cadeiras confortáveis é porque deseja que as pessoas fiquem por ali.
Ninguém seria obrigado a nada nestas versões da escola dos meus sonhos. Os alunos poderiam entrar e sair quando desejassem, bastando comunicar aos professores. Ninguém seria reprovado por faltas. Afinal, as aulas precisam ser encontros agradáveis para que os alunos queiram estar lá, sem que seja preciso controlar a presença deles. Não haveria deveres para casa. As tarefas deveriam ser realizadas todas na escola.
Talvez, se houvessem tantas escolas diferenciadas, fosse preciso existir também professores com diferentes performances (ou será que já não é assim??). Professores mais tradicionais, professores que gostariam de trabalhar com as saídas de campo, professores que prefeririam trabalhar com o uso de tecnologias, professores que gostariam de trabalhar em grupo com outros professores, professores que preferem estar só em suas aulas, professores que gostem de tudo um pouco. Afinal, é preciso respeitar os feitios dos professores também, deixá-los confortáveis e confiantes em suas aulas.
Independente dos conteúdos aprendidos, a maior aprendizagem pretendida por qualquer destas escolas dos meus sonhos seria a metacognição. É impossível educarmos quem quer que seja sem torná-lo capaz de fazer a gestão da sua própria aprendizagem. Os alunos seriam incentivados a identificar pontos fortes e pontos fortes nos processos cognitivos e a avaliar permanentemente se estão a aprender ou não.
Outra aprendizagem que estas escolas devem ter como meta, é uma espécie de Educação para o Caos. Nossos alunos precisam saber transitar tanto pela ordem quanto pela desordem. O desconcerto que a multiplicidade causa em muitos de nós, é porque só fomos educados para a ordem e qualquer desordem, mesmo que temporária, nos paralisa. Por isso é tão importante que os alunos vivenciem o caos e os muitos caminhos nele existentes, aprendendo a escolher e a justificar suas escolhas.
O tempo, nestas escolas dos meus sonhos, deveria ser reinventado. Os alunos seriam orientados a respeitar os ritmos biológicos. Aqueles que precisassem tirar um cochilo depois do almoço teriam sua rede à sua espera. O mesmo se aplicaria aos dorminhocos de fim de tarde (como acontece comigo!).  Os primeiros horários da manhã, quando o frescor matutino dá a impressão de um friozinho, só seriam utilizados por aqueles que se sentissem absolutamente à vontade com o acordar e trabalhar tão cedo. Bocejou? Volte para a casa e durma mais um pouco!
Nestas escolas dos meus sonhos, o professor é a figura mais importante (sem essa de que as escolas só existem porque existem alunos... estes chegam e se vão... os professores ficam!). O professor é o coração de uma escola, se ele não pulsa a escola fenece. Ele precisa ter olhos brilhantes e fala apaixonada: seja por um filme que viu no cinema, um poeta, ou mesmo uma imagem. Sobretudo, o professor precisa estar feliz.


 


Ana Paula Bossler
Professora na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Trabalhou por uma década com o ensino de ciências para deficientes visuais. Tem como áreas de interesse aprendizagens no rádio, televisão e cinema. Adora costurar! 



A cerimônia do ensino






Na escola dos meus sonhos o estudo não seria somente o alimento da mente e da alma, o que já pode ser considerado um sonho, mas seria também como alimentos que consumimos com água na boca.                    

Na direção desta escola os projetos seriam planejados como se para uma maravilhosa festa de casamento, onde se pensa em cada mínimo detalhe com muito amor e carinho; e se escolhe todo o cardápio, da entrada à sobremesa, querendo agradar a cada convidado presente.  

E é claro que em um casamento não temos somente um jantar muito caprichado, e sim todo um “entorno” extremamente planejado. Então na minha escola além de um cardápio caprichado haveria “complementos” muito empolgantes. 

              Na sala dos professores a empolgação, para compor o cardápio e servi-lo, seria maravilhosa. A matemática logo de cara escolheria fazer parte das entradas, e é lógico que argumentaria a escolha utilizando uma lógica: “a matemática é a base de tudo, está incluída em todos os conteúdos, tudo é matemática”.  

              A matemática pensaria nas maneiras fantásticas de trabalhar os números em suas bandejas que seriam redondas, triangulares, quadradas, hexagonais..., e estariam cheias de canapés, quiches, tortinhas, empadinhas, tortilhas, mini crepes, todos com aromas fantásticos, que fariam o convidado, ou melhor, o aluno flutuar ou ainda elevar a 3ª ou 4ª potência até a bandeja, mas tudo servido na medida certa, para não atrapalhar o restante do jantar.

            A língua portuguesa ficaria com o cerimonial, deixando suas regras claras através da etiqueta, do por favor, e do muito obrigado que podem (e devem) ser utilizados sem restrições, a todo tempo e em qualquer lugar. O sabor de elaborar deliciosas frases e compreender palavras fascinantes pode ser comparado a um manjar dos deuses e todos se deliciariam.  

              A história planejaria estar presente ao longo de todo o tempo, relatando todos os acontecimentos e auxiliando na percepção dos sabores, das descobertas, e também dos dissabores, dos momentos doces e dos amargos que poderiam surgir, portanto ficaria com as bebidas.

             A física se preocuparia com o movimento (uniforme, retilíneo, circular...) de todos, para que dois corpos não pretendessem ocupar o mesmo lugar no espaço vindo a se chocar, o que poderia provocar uma reação já que toda a ação leva a uma reação. E para que nada tivesse um sentido negativo e estragasse todo o magnetismo do momento manteria sua ótica sempre no foco.   

              A geografia viria com os pratos típicos de cada país, uma viagem gastronômica maravilhosa, o ensino teria sabores e temperos diversificados como nossas etnias, temperaturas variando entre lavas de vulcões e pontas de icebergs, cores como as dos trópicos, das savanas, do cerrado, das tundras...

            A química escolheria a sobremesa, e com que nobreza faria a união dos elementos, em reações de síntese surgiriam algumas das guloseimas, já outras seriam através das diferentes condições de temperatura e pressão; mas todas surpreenderiam pelos seus resultados com formação ou quebra de moléculas e todos se deliciariam com toda essa explosão de conhecimento.  

               A biologia provocaria um espetáculo à parte. Com um olhar curioso para todas as situações faria com que os convidados levantassem questionamentos do tipo: “porque fiquei com água na boca antes mesmo de me servir?”, “o que acontece com o alimento dentro do meu corpo?”, “as pessoas estão se preocupando com sustentabilidade?”, “o que posso fazer para melhorar a minha relação com o planeta?”. Entre um prato e outro realizaria “visitas de campo” ao redor da festa, veria quanta vida existe no tronco de uma árvore ou em meio a um gramado; quanta organização em um formigueiro, e quanta beleza e perfume no canteiro das flores.                                                               

É claro que para realizar toda esta festa de aprendizagem muita ajuda se faz necessária. Não realizamos todas as refeições na escola, portanto na escola dos meus sonhos os pais se preocupariam com a educação dos seus filhos, e seriam parceiros da escola, e ajudariam a despertar em seus filhos o gosto por chocolate, que é bem fácil e por jiló, não tão fácil. E para que os alunos tivessem um prato bem diversificado e colorido na cerimônia do ensino que planejei, a escola dos meus sonhos necessitaria de recursos financeiros e um olhar mais açucarado, doce e belo dos governantes; vislumbrando a capacidade e a garra do seu povo que mesmo com tão pouco, diria que com o arroz e feijão, não desiste dos seus sonhos e lutam por EDUCAÇÃO.





Ana Paula Felipe Jordão
Graduanda em Ciências Biológicas na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Trabalhou durante 20 anos com chocolate e arte. Esposa e mãe apaixonada.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A escola dos meus sonhos






Uma escola precisa ter, em primeiro lugar, um portão de entrada bem grande, não uma portinhola por onde passam nossas pessoas físicas, mas um portão grande, que se abra por inteiro e deixe passar nosso ser por inteiro: a pessoa e os seus desejos, sua bagagem inteira.  Daí, quando você entra dá de cara com um enorme jardim, para chegar às salas de aula você precisa, necessariamente, passar por um jardim. Mas não é um jardim comum, é um jardim cheio de histórias. As árvores (sim, com árvores!) terão plaquinhas, mas não para colocar nomes científicos, terão plaquinhas com os nomes e as datas de quem as plantaram, alunos antigos, que queriam deixar ali uma coisa maravilhosa para os que iriam chegar. Porque as árvores são seres maravilhosos, mágicos....  E não se pode passar pelo jardim com pressa. Há que se maravilhar um pouco, olhar para os lados, ver que flores novas se abriram, que flores se foram com a mudança das estações. Passando pelo jardim os sonhos se acomodam nas mentes, as tristezas ficam mais apagadas, a vida começa a ter uma cor diferente.
Depois disso a sala de aula. Tal e qual o jardim: com marcas pessoais, carteiras que parecem confessionários, por onde passaram segredos, amores, saberes mil. Sentado ali o tempo é outro, os mistérios das ciências vão se revelando, as pessoas (alunos) vão se descobrindo engenheiros, cientistas, poetas, professores... as possibilidades existem, estão por ali, ao vento, ao alcance das mãos. Os dias vão se passando, a cada novo dia uma nova descoberta, um segredo revelado. Na sala de aula as pessoas se encontram, se resolvem, se abraçam, se emocionam. Ali dentro pode-se dar asas à imaginação, pode-se colorir qualquer vida, pode-se viver livremente, sem limitações, sem aborrecimentos maiores. Os limites de cada um se impõem, mas não para aborrecer, e sim para dar aos sonhos a matéria, a matéria viva e real de cada um, do que podemos ser. 
Saindo dali temos ainda a secretaria, a diretoria, a sala dos professores, a cantina. Precisa ter tudo isso? Não sei... mas tem. Tem um lugar só para os professores se encontrarem, guardarem suas coisas e ficarem leves, leves a caminhar com as outras pessoas, lado a lado... Ninguém fica muito tempo na sala dos professores, porque eles querem mesmo é se misturar, virar meninos de novo, colher flores, subir nas árvores, brincar um pouco com os outros. Quando não estão nas salas de aula ficam no jardim, na cantina. Onde houver um aluno há também professores, por quê? Porque simplesmente são pessoas que se gostam e por isso querem estar juntas. 
A diretoria é só para reuniões quase. A diretora também adora maças e está ali no pomar o tempo todo, a vigiar as suas árvores. Dali ela pode ver todas as salas de aula, todos os alunos e professores. Dali ela também pode resolver qualquer problema que aparecer, pode ver a cantina e as cozinheiras (lindas) trabalhando. Pode ver a portaria e também os banheiros, além do pátio da cantina.
Nas reuniões se discute como podem as pessoas que habitam aquela escola serem mais felizes. Como podem aprender mais e mais, sendo cada vez mais felizes. Estratégias, árvores, flores e poemas... tudo é matéria de reunião. Se algum aluno não vai bem precisamos ver o que está acontecendo com ele. Talvez precise passar mais tempo com as mãos na terra, talvez precise passar mais tempo colhendo as flores para levar às salas de aula... estratégias de purificação da alma... esse tipo de assunto intriga os professores. Eles estão a um passo de descobrir como ter alunos muito felizes e que ao mesmo tempo possam levar toda essa poesia, todo esse conhecimento para fora daquela escola maravilhosa.
Na cantina temos os mais diversos tipos de mesa: quadrada, redonda, oval. Todo tipo de formato. O professor de matemática adora a cantina! E a cantina continua nos jardins ao redor, tem bancos para podermos sentar e comer, e lugares para fazer um monte de lanche, sentados ao chão. As comidas são feitas por mãos amigas, com bons pensamentos e boas lembranças.... o que poderia ser mais saudável? 
E tem a tesouraria também. Um lugar onde o dinheiro pode servir para melhorar a vida de todos. O que entra é investido na escola: adubo, mais mudas, comidas, livros, muitos livros... 
Tem salas com computadores também. As pessoas gostam de saber como está o outro lado do mundo. Mas só um pouquinho, porque não dá tempo de ver tudo que acontece no mundo e ainda viver tanto! 
E tem um rio que passa pela escola. Ele chega cansado, mas sai da escola tão limpinha e feliz que não vê a hora de encontrar novas matas e desbravar novos terrenos.  O rio alegra as pessoas todas, o barulho do rio é o barulho que se ouve na hora de fazer as provas. 
Porque tem provas sim. Prova de tudo: de subir em árvore, de matemática e de português. E ninguém tem medo de prova. Todo mundo adora prova, porque os professores fazem as provas para os alunos acertarem tudo, para provar a eles do que são capazes, para que todos acreditem que poesia e jardim podem construir ruas e prédios, calcular pontes e cidades inteiras. As provas são boas e as pessoas gostam das provas, é a hora de trocar experiências, de aprender mais, de saber se o que foi aprendido está guardado dentro da gente ou se já se foi, voando com o vento. 
O portão de entrada é o mesmo da saída, mas ninguém tem problemas de confundir entrada com saída. Todo mundo leva essa escola no coração, por onde for.... 
 
 
Anete Formiga 
Doutoranda em Anatomia Vegetal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 Autora de livro para crianças e com experiência no ensino básico.

“A Escola dos Meus Sonhos”







        
                Assistindo ao seriado Two and a half man, uns dos personagens “Jack”, que nas primeiras temporadas era uma criança capaz de entender e realizar tarefas melhor que seu pai Alan e seu tio Charle, tinham dificuldades na escola e em alguns episódios fica claro que o menino estava totalmente desestimulado em ir para o colégio ou em fazer suas tarefas. Entretanto, isso não é apenas ficção, basta olharmos em blogs, glogsters e sites de jovens e adolescentes que frequentam a sala de aula, a revolta e o desanimo expressos por eles através desses veículos de comunicação que por sinal são bons, e eles fazem por conta própria demonstrando sua capacidade de escrita, critica e criatividade o que pode estar sendo inibido em sala de aula. Portanto, é difícil entender porque esse sistema de educação continua, se os principais personagens dessa história não estão se dando bem e o mais interessante é que estamos tão engessados nesse sistema, que dificulta a implementação de novas ideias, entretanto, nada nos impede de sonhar com uma educação livre, emancipadora e efetiva de fato.  
            Sendo assim, a escola dos meus sonhos, teria uma hierarquia mais simples para organiza-la, onde os alunos e professores participam plenamente nas decisões a serem tomadas para formação e manutenção do sistema de ensino. Uma escola que ensinasse seus alunos a viverem, assim como os índios ensinam seus filhos a sobreviverem na selva, utilizando seus recursos naturais de maneira sustentável, ensinar a realizar tarefas como cozinhar, consertar algo, construir tecnologias, tocar um instrumento musical, aulas de teatro, fotografia, cantar, desenhar, pintar, valorizando o ser humano e sua cultura, ensinar seus alunos a compreender a importância de cada atividade ou profissão para manutenção e crescimento da sua cidade, uma escola onde os professores têm capacidade e liberdade de orientarem seus alunos com os conteúdos que acharem adequados, onde os professores se respeitem e se autovalorizem, onde o respeito, harmonia e trabalho em grupo de professor/professor, professor/aluno e aluno/aluno andasse de mãos dadas em um aprendizado mutuassem punições e ofensas, uma escola em que os alunos sejam unidos e que as piadas feitas em sala de aula sejam gracejadas por todos e não apenas por alguns.   
            Sonhar com uma escola que tenha uma estrutura aconchegante, cuja inspiração e a criatividade venham à mente só de estar presente nesta, onde os alunos possam personalizar seu espaço despertando a curiosidade de quem vê criatividade esta, que ultrapasse os muros da escola e refletem nas ruas, nas praças, enfim, em todos os cantos da cidade.
            Uma escola que não aprova e nem reprova, não existe avaliação por consequência nem a competição, uma escola que valorize as aprendizagens dos alunos, onde todos são responsáveis na educação de todos, com liberdade para os alunos desenvolverem ainda na escola habilidades que podem ser aprimoradas para que este assuma uma profissão. Porém, é difícil imaginar nosso mundo sem a competição, pois, muitos querem realizar a mesma atividade, talvez por amor ou por dinheiro, quem sabe seja por isso que a educação hoje tenha dificuldade de se soltar das raízes do tradicionalismo. Entretanto, é nos educando ao modelo das escolas dos nossos sonhos em que iremos nos emancipar quanto as nossas condutas perante a sociedade e a maneira em que vivemos nesta.
          Sendo assim, é evidente que a educação está intrinsicamente vinculada ao comportamento da humanidade, que por consequência tem o poder de transformar o mundo em que vivemos para o mundo em que sonhamos.



 
Diego Pimentel Venturelli
Estudante de graduação em Ciências Biológicas (Licenciatura) pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba MG. Já foi bolsista pelo Programa de Iniciação a Docência (PIBID) e de Iniciação Cientifica. Tem como área de interesse Tecnologia de Ensino e Aprendizagem e Ecologia Evolutiva de anuros


Nada Além De Um Sonho!!!





Eu tive um sonho e, vou te contar! Sonhei com uma escola exemplar!
A escola do meu sonho é uma escola diferente, tem pião, pula-se lá, e tem um jeito de ensinar que é só dela.
Na "minha" escola, os estudantes aprendem fazendo, são sempre convidados a observar, experimentar, veem a relação entre o conhecimento e a sua vida, não são meros ouvintes, mas produtores de conhecimento.
Os professores são orientadores apaixonados. Ao lerem uma poesia, fazem as emoções pairar no ar; ao indicarem um livro, conhecem como transformar um personagem num espelho e, ao mesmo tempo, em janelas. Conseguem mostrar como o passado perdura no presente e influencia o futuro - e o que "eu" tenho a ver com essa eterna passagem. Mostram que a gramática não é um amontoado de normas, mas meio de expressão. Ciência não se resume a fórmulas, ela é o encanto da metamorfose. Nessa "minha escola", arte e filosofia devem ter tanta importância quanto à língua portuguesa ou a matemática.
Na escola do meu sonho o entrosamento é tão grande que as carteiras deixam de ser riscadas, os banheiros permanecem sempre cheirosos e as salas, as dependências e o pátio nunca sujam.
Nesse lugar, as cores, finalmente, são entendidas e respeitadas. Os direitos são iguais a todos. As trocas de ideias sobre religiões são discutidas e ninguém diz mais que a sua crença é que é a certa, pois o objetivo é entender o pensamento diferente. Os pobres e os ricos são tratados da mesma maneira e aprendem.
A escola do meu sonho é bem grande, tão grande que atinge a dimensão das minhas curiosidades, os moldes das minhas necessidades de crescer. É um espaço acolhedor, onde eu me sinto bem em estar, sou recebido com carinho, respeitado como cidadão. Uma escola que me ajuda a dar asas ao meu desejo de aprender, que proporciona condições para desenvolver o meu potencial e oportunidades para expor minhas ideias, para aprender errando, discutindo; para encontrar nos estudos a estrutura para evoluir.
A escola do meu sonho não tem muros altos que escondem os horizontes do mundo, as cores, as flores, a vida. Não é aquela que, arbitrariamente, vê o aluno por um só prisma, mas o vê como um ser único e completo, em todas as suas facetas e façanhas, em todas as suas competências e habilidades. Não é aquela que utiliza o erro para punir, mas para avançar e faz deste erro um degrau para a aprendizagem.
A escola do meu sonho remunera bem e oferece condições para que seus educadores se atualizem e conheçam outros horizontes.
A escola do meu sonho encoraja, questiona, instiga, faz pensar, ser e acontecer. Os professores não ensinam, aprendem a aprender e auxiliam no aprendizado. Ocupa-se na busca de novos caminhos para auxiliar alunos e seguidores a se tornarem mais humanos, responsáveis, integrados e capazes de viverem em harmonia consigo mesmo e com os outros. Abre portas para os alunos e seus mestres enxergarem os horizontes e o que tem por detrás deles.
A escola do meu sonho está ligada ao prazer de apreender, repleta do lúdico, ligada à dança, à música, à poesia, à compreensão dos valores, lidando com as emoções, com as descobertas, buscando através das pesquisas o aprender a ser, a viver e a conviver. Lá se compartilham espaços, dividem-se ambientes, somam-se ensinamentos, vive-se em conjunto.
Na escola do meu sonho normalmente no outono, os alunos sentam-se calmamente no banco do jardim, e deliciam-se com a sinfonia do desfolhar das árvores. Ninguém tem pressa, ninguém corre de um lado a outro. O tempo flui como tarde descansada, como dia de férias, como colo de mãe. Tudo é feito a medida do homem e da criança.
Nesta escola não há gritos. O maior não grita com o menor, o menor não grita para chamar atenção. Os professores quando falam, falam com os olhos, com os gestos, com o corpo, com as mãos e principalmente com o olhar. O olhar atento de quem ama, e sabe que não há nada mais importante para o crescimento do que ser olhado como único, como pessoa especial.
Apenas mais um sonho!


 

Vânia Cristina da Silva Rodrigues
Professora do curso de Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em Uberaba.



A escola dos meus sonhos





A escola dos meus sonhos em termos de edifício seria semelhante à casa muito engraçada de Vinicius de Moraes: não teria teto, não teria nada. É uma não-escola, com não-professores e não-alunos... E não-ensino e não-aprendizagem… Sem horários (exceto os das refeições) e com longos intervalos (apenas interrompidos pelas refeições!).
E o que acontece nesta não-escola? Nada que não possa acontecer numa escola. Os não-professores fazem as atividades típicas dos não-professores (e alguns até poderão dar lições!) e os não-alunos engajam-se nas tarefas típicas dos não-alunos (e alguns até poderão assistir às lições dadas por alguns dos não-professores!).
Na não-escola não há aulas obrigatórias, apenas voluntárias. Na não-escola não há tarefas para os não-alunos realizarem, apenas desejos e objetivos para serem concretizados. Na não-escola não há regras disciplinares a respeitar, apenas pessoas que respeitamos e que nos respeitam. Na não-escola não há leituras obrigatórias, apenas as voluntárias e prazerosas. Na não-escola não há notas azuis e vermelhas, não há aprovações, reprovações e progressões, apenas o que sabemos, o que não sabemos e que desejamos saber. Na não-escola os não-professores e os não-alunos não têm lugar marcado, apenas há a necessidade e o desejo de estar com os outros (seja qual for o motivo!). Na não-escola não há visitas de estudo seguidas de composições descritivas dessas visitas, apenas idas a locais aprazíveis e conversas com pessoas interessantes. E os não-alunos que quiserem escrever sobre a visita não estão proibidos de tal!
Um dia típico na não-escola é de um tipicismo difícil de descrever, porque os horários a cumprir incluem apenas as refeições (exceto nos dias de praia ou de passeio). Os não-professores e os não-alunos chegam à hora que quiserem (ou à hora combinada no dia anterior)… Não há campainhas para lembrar atrasos (exceto para as refeições!) ou para dividir o dia em pedaços melancolicamente sofridos… Não-professores e não-alunos entram e saem da escola ao sabor dos seus desejos e combinações e vão para casa à hora que lhes for mais conveniente… Em caso de impedimento para comparecer na escola, não-professores e não-alunos só comunicam esse impedimento por respeito e consideração com os outros não-seres.
A não-escola não é centrada nos professores, nem nos alunos, nem no ensino, nem na aprendizagem… É descentrada nisso tudo e centrada naquilo que é verdadeiramente importante: democracia, liberdade e felicidade… Onde todos contam igualmente, no respeito mútuo e sem subterfúgios. A não-escola tem como lemas “uma pessoa, um voto”, “a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do outro” e “o direito à felicidade”… A não-escola não é uma escola de pernas para o ar: é apenas o que uma escola deveria ser!

Pedro Jorge Caldeira
Professor de educação a distância do Instituto Superior de Educação e Ciência (Lisboa).
Residente em Uberaba.


Procura-se uma escola da Cibercultura




Deve haver uma escola intergaláctica para o sonho de Lucas. Lucas é uma criança de noves anos que segue sempre arrastado para sua escola real. Até agora ele só frequentou duas escolas mas não sei por quantas ele ainda irá navegar.
Manheeee...vamos depressa, pois preciso descobrir um planeta! É sempre assim, uma pressa para os jogos, para conversar com os amigos do basquete e principalmente com os amigos virtuais em redes sociais, ao mesmo tempo está acompanhado do amigo imaginário. Os únicos momentos de lentidão e preguiça são: a hora do para casa e estudo e escrita nos livros impressos.
Então, tentarei descrever para você o que poderia ser mais prazeroso para este Lucas e tantos outros garotos e garotas da geração digital. Como poderia ser desenhada esta escola ou até mesmo um dia desta escola conectada ao ciberespaço.

INÍCIO DA MANHÃ
Após a higiene matinal, um momento nunca dispensado é o do lanche. Seria um lanche coletivo com frutas, sucos e espaços para o preparo de sanduíches naturais, ovos mexidos e leite. Uma dieta saudável faz bem para todos. A escolha seria livre e cada um deveria fazer o seu lanche com foco na autonomia e no poder de decisão. Em cada um dos ingredientes deixados na mesa haveria uma etiqueta digital com valores calóricos e com as combinações a serem realizadas na porta da geladeira conectada à web. As escolhas deveriam ser registradas no webfólio disponível para cada aluno com o seu login e senha.
No segundo momento da manhã, as crianças teriam em sua área de trabalho, em seus computadores móveis (tablets, notebooks ou ultrabooks) dicas de links para jogos já previamente selecionados. Estes jogos virtuais poderiam ser mediados entre os colegas em duplas e também entre os amigos virtuais.
A presença dos ícones dos jogos em sua área de trabalho poderia ser fruto de uma negociação entre os mediadores e também entre os pares (colegas de turma). O tempo para estes jogos dependeria da dupla e da proposta de cada tema discutido.
Após o momento do jogo, apareceria no webfólio da criança o tema do projeto já preestabelecido em conversas entre professores e turma de trabalho e pesquisa, assim, ele deveria aprofundar em uma leitura na tela, em uma pesquisa ágil de algum termo relacionado ao assunto e escreveria lá em seu webfólio, na parte do blog o que descobriu, quais os links indicados e que filmes e músicas poderíamos usara par aprofundar no assunto do projeto pessoal.
O final da manhã ficaria então para ouvir músicas, consultar fotos e imagens e assistir os filmes dos projetos coletivos e individuais de cada criança.

 PARADA PARA O ALMOÇO
No momento do almoço, na escola da cibercultura, a criança poderia optar entre encontrar os pais no trabalho e almoçariam com ele. A escola também estaria aberta para os almoços em famílias ou pique niques entre os colegas. Cada um, com um prévio planejamento desenvolveria à sua maneira as duas horas para preparo e almoço seja na escola, em casa ou no shopping próximo ao pai, mãe ou responsável. (Não me venha falar que isto só é possível para a classe média, pois já há shoppings e espaço gourmet em várias regiões centrais ou periféricas da cidade).  O objetivo deste momento aberto é de uma alimentação regada de afeto e com pessoas que a criança confie.

ESPAÇO TARDE
Na retomada dos trabalhos da tarde haveria um momento coletivo com lousas digitais e apresentações de dúvidas retiradas entre os colegas e os professores referência de cada turma. Normalmente, estas dúvidas surgiriam tanto da vivência quanto da escrita dos seus projetos de pesquisa e já estariam registradas em seus blogs para aprofundar e discutir com os professores orientadores.
A lousa digital também proporcionaria o acesso aos registros dos alunos, a bibliotecas e softwares que seriam utilizados coletivamente.
Até o lanche da tarde haveria muita discussão e a vivências mediadas pelos softwares e livros escolhidos no aprofundamento.
O lanche da tarde seria oferecido nos mesmos moldes do lanche do início da manhã com uma outra diferença de acordo com o dia e o tipo de evento para o final da tarde. Apresentação de desenhos digitais, de poesias eletrônicas, uma tarde de música eletrônica ou mesmo novas ideias de projetos.
Este final de tarde poderia ter um sarau, uma peça de teatro em ensaios ou apresentações, show de dança tudo fotografado para ser editado e remixado pelos próprios alunos. Assim aprenderíamos com o poder da mídia e a manipulação de imagens e fatos.
E com certeza, a noite não haveria choro nem vela para os afazeres de casa disponíveis no webfólio do Lucas que prontamente acessaria o seu dia, o seu roteiro e o que ainda falta para ser feito em sua pesquisa escolar de trabalho, com novas dúvidas e principalmente um trabalho em uma rede de conexões e sentido.


 

Luciana Zenha

Professora universitária há mais de quinze anos pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG no curso de Pedagogia. Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG pesquisa redes sociais e aprendizagem online e tecnologias educacionais.  Coordena produção de material didático em EAD. Tem como campo de interesse as tecnologias sociais e culturais, robótica e redes em formação.